A Questão Metodista: A Igreja Metodista Unida está envolvida em política?

As pessoas chamadas metodistas têm se envolvido ativamente em questões sociais e políticas desde sua fundação na Inglaterra do século XVIII. Os metodistas estavam entre os principais defensores da abolição da escravidão em todo o Império Britânico, da organização de sindicatos para proteger os trabalhadores de condições de trabalho perigosas, do fim do sistema prisional de devedores e da criação de novos sistemas de assistência para crianças pobres. Dada essa herança, os metodistas continuaram a defender outras questões sociais ou políticas desde aquela época - sufrágio feminino, temperança, direitos civis, assistência médica e assistência ao meio ambiente, para citar alguns.

Hoje, nosso Credo Social e Princípios Sociais Metodistas Unidos expressam nosso compromisso de participar plenamente na construção de um mundo mais pacífico e justo.   

Os Metodistas Unidos devem se envolver na política?

A Igreja Metodista Unida reconhece que somos responsáveis perante Deus por nossa vida social, econômica e política. A Igreja considera a participação política como privilégio e responsabilidade dos cidadãos.

A Igreja afirma: “A Escritura reconhece que a fidelidade a Deus requer engajamento político do povo de Deus” (Church-Government Relations). “A força de um sistema político depende da participação plena e voluntária de seus cidadãos. A igreja deve exercer continuamente uma forte influência ética sobre o estado, apoiando políticas e programas considerados justos e se opondo a políticas e programas que são injustos” (The Political Community).

Os Metodistas Unidos contam com os mesmos Princípios e Resoluções Sociais mundiais para orientação sobre a interação da igreja e da política. A maneira como a Igreja se envolve na política varia entre as regiões onde a Igreja Metodista Unida está presente. Sua resposta ao estado será bem diferente nos Estados Unidos, Filipinas, Alemanha, Rússia ou Costa do Marfim.

E quanto à separação entre Igreja e Estado?

A Igreja Metodista Unida também afirma uma separação apropriada entre igreja e estado. Os Metodistas Unidos rejeitam o controle ou a interferência indevida de corpos religiosos ou do estado nos assuntos do outro. “A separação entre igreja e estado significa que não há união orgânica dos dois, mas permite a interação” (Church and State Relations).

A IMU tem um escritório de lobby em Washington DC?

O General Board of Church and Society (Conselho Geral de Igreja e Sociedade), a agência de advocacy da igreja para questões de justiça, igualdade e paz, tem escritórios no Capitólio em Washington e no Church Center for the United Nations (Centro da Igreja para as Nações Unidas) na cidade de Nova York.

A Church and Society (Igreja e Sociedade) se dedica a implementar os Princípios Sociais educando, equipando e organizando Metodistas Unidos para defender fielmente as posições da Igreja. As atividades da Church and Society são advocacy, não lobby.

A agência comunica a posição da denominação em mais de 30 questões sociais com formuladores de políticas e líderes da igreja e nacionais, com a missão de transformar o mundo.

O Conselho Geral da Igreja e da Sociedade representa a mim ou à minha igreja em questões políticas?

Somente a Conferência Geral fala pela Igreja Metodista Unida. A Igreja e Sociedade implementam as políticas e resoluções adotadas pela Conferência Geral. Seu papel é educar e equipar os Metodistas Unidos para pensar e agir sobre questões de uma perspectiva de fé.

O que posso fazer se discordar da posição da IMU sobre um assunto?

A Igreja reconhece que membros individuais podem ter visões variadas sobre preocupações sociais e políticas. A Igreja observa no Livro de Resoluções: “Você pode descobrir que as políticas da sua denominação lhe dão mais 'alimento para reflexão'. Talvez você concorde com a posição da denominação. Por outro lado, você pode discordar.”

Se você discorda da posição da Igreja, comece falando com seu pastor. Os membros da Metodista Unida que têm sentimentos fortes sobre uma questão e buscam mudar uma declaração ou política atual podem fazer uma petição à General Conference (Conferência Geral) para solicitar ação.

Por que as declarações sociais da Igreja e as políticas governamentais parecem tão distantes em algumas questões?

Nosso Livro de Resoluções de 2016 aborda essa questão, começando na p. 23.

“A filiação à Igreja Metodista Unida se estende além das fronteiras dos EUA; é global. Então, em muitos casos, estamos falando para, de ou com mais de um governo nacional. Além disso, a igreja cristã nunca deve ser uma imagem espelhada de nenhum governo, seja democrata ou republicano, totalitário ou democrático. Sabemos que os cristãos são obrigados a ser cidadãos responsáveis e participantes sob qualquer sistema governamental, mas essa resposta e participação devem ser interpretadas à luz da nossa fé.

“Como os Princípios Sociais declaram, 'Nossa lealdade a Deus tem precedência sobre nossa lealdade a qualquer estado' (¶ 164). E o testemunho público de nossa igreja deve ser julgado por Deus, antes de tudo, por apoiar a justiça, o amor e a misericórdia, particularmente para os pobres e desamparados.”

A IMU nos EUA apoia ou contribui para algum candidato ou partido político?

Não. Esta é uma atividade proibida pela lei sem fins lucrativos dos EUA para igrejas e outras organizações de caridade.

Igrejas e organizações religiosas se qualificam para isenção de imposto de renda federal e geralmente são elegíveis para receber contribuições dedutíveis de impostos. Igrejas podem colocar em risco ou até mesmo perder esse status se se envolverem em "atividade de campanha política". De acordo com o IRS, "todas as organizações da seção 501(c)(3) são absolutamente proibidas de participar direta ou indiretamente ou intervir em qualquer campanha política em nome de (ou em oposição a) qualquer candidato a cargo público eletivo. 

Contribuições para fundos de campanha política ou declarações públicas de posição (verbais ou escritas) feitas em nome da organização em favor ou em oposição a qualquer candidato a cargo público violam claramente a proibição contra atividade de campanha política. A violação dessa proibição pode resultar na negação ou revogação do status de isenção de impostos e na imposição de certos impostos especiais de consumo."

As igrejas podem ser politicamente ativas sem comprometer seu status de isenção de impostos?

Nos Estados Unidos, as igrejas podem ter receio de se envolver no processo eleitoral por preocupação com o status de isenção de impostos da igreja.

As organizações religiosas podem salvaguardar o direito de votar, educar comunidades sobre questões e candidatos e encorajar a participação no processo eleitoral quando feito de forma não partidária. O recurso da Church and Society (Igreja e Sociedade) para igrejas locais, Creating Change Together: A Toolkit for Faithful Civic Engagement (Criando Mudança Juntos: Um Kit de Ferramentas para um Engajamento Cívico Fiel), lista atividades que uma igreja pode e não pode fazer.

O IRS esclarece atividades políticas que podem colocar em risco o status de isenção fiscal de uma igreja. Uma é participar de campanhas políticas de candidatos a cargos públicos. Outra é gastar uma parcela substancial de tempo ou recursos para influenciar a legislação. 

O discernimento da “parte substancial” é feito pelo IRS caso a caso.

O IRS considera uma série de fatores-chave para determinar se uma atividade ou comunicação corre o risco de violar proibições contra intervenção em campanhas políticas. 

A IMU acredita que as igrejas têm o “direito e o dever de falar e agir corporativamente sobre questões de política pública que envolvam assuntos e questões morais ou éticas básicas. … A tentativa de influenciar as informações e a execução de políticas públicas em todos os níveis de governo é frequentemente o meio mais eficaz disponível para as igrejas manterem diante da humanidade o ideal de uma sociedade na qual o poder e a ordem são feitos para servir aos fins da justiça e da liberdade para todas as pessoas” (Church-Government Relations).

A propriedade da igreja pode ser usada para comícios políticos, campanhas eleitorais ou eventos de candidatos?

Há várias questões que determinam se, e como, a propriedade da igreja pode ser usada para tais eventos.

Um webinar do IRS oferece orientação sobre esses tipos de atividades por organizações de caridade.

Organizações de caridade podem conduzir atividades não partidárias que educam e encorajam as pessoas a participar do processo eleitoral.

As congregações podem:

  • discutir questões morais e de políticas públicas,

  • incentivar os congregantes a comunicar com os candidatos sobre questões ou políticas importantes para a comunidade,

  • incentivar a votação e ajudar as pessoas a irem às urnas,

  • patrocinar campanhas de registo de eleitores, se conduzidas de forma não partidária,

  • fornecer educação sobre tópicos de forma imparcial,

  • patrocinar campanhas "consiga votar" e permitir que as instalações da igreja sirvam como locais de votação, e

  • organizar fóruns de candidatos, desde que todos os candidatos sejam convidados, uma ampla gama de questões seja discutida e todos os candidatos tenham igual oportunidade de falar.

As congregações não podem:

  • emitir declarações endossando ou apoiando candidatos ou distribuir materiais tendenciosos a favor ou contra um determinado candidato ou partido político,

  • doar dinheiro a um candidato ou solicitar contribuições em seu nome,

  • oferecer espaço na igreja a um candidato e recusá-lo a outro,

  • patrocinar comícios de campanha para candidatos na igreja,

  • doar ou criar seu próprio Comitê de Ação Política (PAC).

Os pastores podem pregar ou compartilhar opiniões políticas pessoais nas redes sociais?

A Igreja Metodista Unida tem posições oficiais sobre uma ampla variedade de questões de políticas públicas. Todos os clérigos são esperados e encorajados a pregar e ensinar sobre as declarações e políticas da igreja como parte de seu ministério pastoral.

As próprias escrituras também estão cheias de orientação de profetas, Jesus e da igreja primitiva que têm fortes implicações políticas, sociais e econômicas. Pregar o que as escrituras dizem e como elas se aplicam às situações atuais é uma parte significativa do que os pastores são chamados a fazer.

Um pastor não pode usar o púlpito, publicações da igreja, site ou mídia social, ou qualquer outro fórum relacionado à igreja para declarar suas preferências individuais por qualquer candidato político ou legislação específica. Eles podem fazer isso como cidadãos privados usando suas próprias plataformas de mídia social. O IRS incentiva os líderes religiosos que falam ou escrevem em sua capacidade individual a indicar claramente que seus comentários são pessoais e não pretendem representar as opiniões de sua igreja.

Um pastor pode criticar certas ações ou posições políticas de candidatos específicos com base nas escrituras ou nas declarações oficiais da Igreja Metodista Unida. No entanto, tal crítica deve ser sobre posições políticas ou ações, não se esse candidato deve ser eleito.

Um pastor pode se envolver na política local? 

Um pastor pode estar diretamente envolvido na política local e até mesmo se tornar um candidato a um cargo político, desde que seja no próprio tempo do pastor e não como um representante da igreja. O pastor não pode usar sua posição na igreja nem qualquer propriedade ou recursos da igreja para promover sua própria campanha política.

Devo respeitar os líderes eleitos com quem discordo?

Independentemente de nosso candidato preferido ser eleito ou não, os Metodistas Unidos oram por todos os líderes que servem ao público e “apoiam seus esforços para proporcionar justiça e igualdade de oportunidades para todas as pessoas”. Reconhecemos as decisões difíceis que os líderes eleitos tomam em nome das pessoas que servem e a enormidade das consequências dessas decisões.

No entanto, não nos submetemos cegamente às autoridades governamentais. Como igreja, nos esforçamos para exercer uma “forte influência ética” sobre o governo, responsabilizando os líderes por políticas que são justas e nos opondo àquelas que são injustas (Political Responsibility).

Responsabilizamos o governo por proteger os direitos do povo e nos opomos à opressão governamental de seu povo. Os cidadãos podem exercer seu direito de votar para garantir que os líderes usem seu poder de forma responsável.

Quando o governo promulga políticas injustas ou prejudiciais, o testemunho das escrituras nos mostra que pode haver momentos em que “a fidelidade bíblica exigirá desobediência civil às autoridades governantes (Atos 4:1-20)” (Church-Government Relations).

¡Manténgase informado/a!

Como discípulos de Jesus Cristo trabalhando pela transformação do mundo, levamos a sério nossa responsabilidade de participar plenamente na construção de um mundo mais pacífico e justo. 
Como posso responder fielmente a uma questão que me preocupa?

Os Metodistas Unidos podem trabalhar individual e coletivamente para efetuar mudanças. Escreva ou encontre-se com representantes; envie uma carta ao editor; participe de vigílias de oração, marchas ou campanhas de mídia social; junte-se a pessoas com ideias semelhantes para aprender mais sobre como uma questão afeta aqueles mais diretamente impactados e trabalhem juntos por uma mudança positiva.

A equipe da Igreja e Sociedade pode ajudar você a desenvolver uma estratégia para abordar as questões pelas quais você é apaixonado. Eles também podem ajudar você a se conectar com outras equipes em sua área que estão trabalhando em questões semelhantes. Creating Change Together (Criando Mudanças Juntos), um recurso para igrejas locais, oferece ferramentas para abordar preocupações públicas.

Como posso falar sobre questões políticas com outras pessoas que discordam?

Neste momento de polarização em torno de questões sociais e políticas, os cristãos podem ter dificuldades para ter um diálogo positivo com a família, amigos e membros da congregação. As diferenças políticas são às vezes vivenciadas como conflitos doentios, mas podem ser vivenciadas como conversas cheias de graça e caridade.

Comece com uma atitude de compaixão e curiosidade. Pratique a escuta ativa e respeitosa para compreensão. Procure um ponto em comum ao esclarecer seus valores. Concentre-se no que contribui para o bem comum e não apenas em seus interesses particulares. Teste o que você diz e como você diz junto com as escrituras, os Princípios e Resoluções Sociais e a tradição e história Metodista Unida.

Guidelines for Holy Conferencing: What God Expects of Us (Diretrizes para Conferências Sagradas: O que Deus Espera de Nós) nos lembra que cada pessoa é uma criança de Deus. As pessoas são definidas, em última análise, por seu relacionamento com Deus -- não pelas falhas que achamos que vemos em suas visões e ações.

O Centro JustPeace para Mediação e Transformação de Conflitos oferece ferramentas e recursos para conversas acolhedoras.

Courageous Conversations (Conversas Corajosas) é uma série criada para ajudar igrejas locais a aprenderem a superar impasses e descobrir como ouvir bem, aprender com os outros e discordar respeitosamente e com amor.

*Este conteúdo foi produzido pela Ask The UMC (Pergunte à UMC), um ministério da Comunicações Metodista Unida. Para ler mais notícias Metodistas Unidas, assine gratuitamente os resumos quinzenais.

**Sara de Paula é tradutora independente. Para contatá-la, escreva para [email protected].